A comunidade indígena lamentou, na última quarta-feira (dia 22/07), a morte do Cacique Nelson Jacinto Xangrê. Ele que estava residindo na terra indígena Iraí-RS foi vítima de um infarto. O corpo foi sepultado na TI Nonoai, Posto Sede, terra que é o símbolo da luta das retomadas em 1978.
Em plena Ditadura Militar, Xangrê e seus guerreiros retomaram e deram novos rumos às lutas dos espaços tradicionais e originários indígenas do Sul do Brasil.
Xangrê em pleno estado de exceção, lutou com seus Kaingangs pela libertação das amarras impostas pela FUNAI, invasores e posseiros, culminando na retomada de terra que pertence originalmente e desde os anos 1850 – como território demarcado – aos Kaingangs. Muito embora o espaço tenha sido reduzido, a permanência dos colonos alocados nos anos 1949, era totalmente arbitrária, e Xangrê lidera este movimento pela libertação da terra para a coletividade.
Vivia em Iraí-RS, na terra que ajudou a reconquistar, porém, passou seus últimos anos evitando contato com o mundo atual no qual vivemos, tendo durante sua existência resistido à inúmeras ameaças de morte.
Era crítico da exploração de terras indígenas e lutava pela emancipação social e autonomia do seu povo.
Com a reintegração do espaço territorial aos Kaingangs, nasce, a partir disso, outro movimento social, o MST, bem como a migração de agricultores para o centro-oeste do Brasil, tudo isso por conta da expulsão destes colonos das terras que pertencem aos originários, momento que colocou em cheque a arbitrariedade governamental que prejudicou Kaingangs e Guaranis, bem como colonos, que ali eram posseiros infectos.
“Em 30/06/1980, ameaçado de morte por funcionários da própria Funai, o Cacique Nelson Jacinto Xangrê, da comunidade Kaingang de Nonoai, defende em entrevista a união de povos indígenas e lavradores para reagirem de forma organizada contra os latifundiários, dois anos depois de ter comandado a necessária expulsão de cerca de seis mil invasores das terras Kaingang.”
Xangrê era descendente direto do Cacique Nonowõyn, grande Cacique que sedeu suas terras ao Império Brasileiro, possibilitando assim a formação do que hoje é a cidade de Nonoai e parte de sua área agrícola.
Parte deixando a sua marca nesta terra que se chama atualmente Nonoai-RS, lutou e conquistou a liberdade de seu povo. Deixa filhos, netos e bisnetos e inúmera obra de vida que já fora pesquisada em artigos, dissertações e teses acadêmicas, e irá continuar a ser lembrado neste campo.
Foto: Ricardo Chaves
Foto: Ricardo Chaves – 1980
Foto 03: Vll ENEI