O prazo da janela partidária, o período do ano eleitoral no qual parlamentares podem trocar de partido sem risco de perder o mandato, transformou o mês de março em uma espécie de linha de largada para as eleições gerais de 2022. A janela abriu no último dia 3, se estende até 1º de abril e, dentro dela, parlamentares em todo o país já deram início às migrações. Não bastasse a agitação que caracteriza o período, no RS ele ganhou ainda mais projeção, em função de o governador Eduardo Leite (PSDB) deixar para anunciar durante a janela se abandona o ninho tucano e se filia ao PSD de Gilberto Kassab, em mais uma tentativa de disputar a presidência da República, após ter a pretensão frustrada dentro do PSDB.
Na prática, Leite poderia trocar de sigla a qualquer tempo até seis meses antes das eleições, e, para disputar a presidência, tem a mesma data limite para se desincompatibilizar do cargo de governador. Mas aproveitar a janela para a troca partidária embute uma estratégia duplamente vantajosa: aumenta a visibilidade da decisão e, ao mesmo tempo, permite que parlamentares da base que desejem acompanhá-lo o façam de forma simultânea, em bloco, agregando também mais peso à migração.
No PSD, o clima é de euforia. “Estamos aguardando pela decisão do governador, a expectativa é de que se posicione após o retorno dos Estados Unidos, e muito entusiasmados. Nossa convicção é de que sua vinda para o PSD mudará o quadro eleitoral nacional. E se decidir permanecer no PSDB e concorrer à reeleição, o que, no nosso entendimento, é uma possibilidade remota, também o apoiaremos. Nosso apoio é incondicional”, elenca o prefeito de Canoas e um dos principais articuladores do PSD hoje no RS, Jairo Jorge.
Conforme o prefeito, a sigla tem uma meta ambiciosa, de emplacar três deputados federais pelo RS e quatro estaduais, com possibilidade de ampliação em função do movimento de Leite. Hoje o partido tem um federal e um estadual. O PSDB gaúcho, por sua vez, detém duas cadeiras na Câmara Federal e quatro na Assembleia Legislativa, e é seguro de que parte deles vai seguir Leite que o PSD faz suas projeções. Jairo confirma também as tratativas para a migração do vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior, que trocou o PTB pelo PSDB há seis meses. “Estamos com as portas abertas ao vice porque, com o governador candidato à presidência, Ranolfo assumirá o posto e passará a ser o grande nome de centro no RS. Isto abre, inclusive, a possibilidade de construirmos uma grande aliança com MDB, PSDB e União Brasil”, especula.
Além do ‘apoio incondicional’ citado por Jairo Jorge, outro indicativo de que a ida de Leite e de parte dos tucanos gaúchos para o PSD está sacramentada é o fato de que o partido já traçou a estratégia de como o governador, que sempre destacou estar em campo oposto ao do PT, vai responder sobre a muito provável adesão de Kassab a candidatura do ex-presidente Lula no segundo turno da eleição presidencial. A sigla primeiro vai repetir à exaustão que Leite irá para o segundo turno. Caso isto não aconteça, vai apostar na necessidade de ‘união de forças políticas antagônicas’ e fazer um comparativo com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que também deixou o PSDB, e deve ser anunciado vice de Lula. “Isto não é um complicador. O governador vai crescer e ser a alternativa à polarização. Bem, se lá na frente por acaso nossa candidatura não estiver no segundo turno, vamos conversar e ver quem traz menos prejuízos ao país”, diz o prefeito.