O conflito entre Israel e Irã é marcado por décadas de tensões geopolíticas, religiosas e militares no Oriente Médio. Desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã se posiciona como um dos principais opositores de Israel, não reconhecendo sua existência como Estado e financiando grupos armados como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Palestina.
Israel, por sua vez, vê o Irã como a maior ameaça à sua segurança, principalmente devido ao programa nuclear iraniano, que segundo Tel Aviv, tem como objetivo desenvolver armas atômicas – algo que o Irã nega, alegando fins pacíficos.
Os últimos anos foram marcados por ataques cibernéticos, operações secretas, assassinatos de cientistas iranianos e ataques a bases militares e depósitos de armas de grupos aliados ao Irã na Síria.
Em 2024 e 2025, o conflito escalou com trocas diretas de ataques entre os dois países. O Irã lançou drones e mísseis contra Israel como retaliação por ações militares em solo sírio e libanês. Israel respondeu com bombardeios a alvos estratégicos no Irã e em seus aliados na região.
O receio internacional é que essa escalada gere uma guerra regional de grandes proporções, envolvendo potências como os Estados Unidos e ampliando a instabilidade no Oriente Médio.
Enquanto as Nações Unidas e diversas potências tentam intermediar o diálogo, o cenário permanece tenso, com riscos reais de novos confrontos a qualquer momento.
Uma erechinense na zona de conflito
Mas, para que tenhamos uma ideia de como é estar vivendo esta tensão no dia a dia, o Grupo Bom Dia de Comunicação entrevistou a erechinense Gabriela C. Szuchman, 30 anos, que mora em Tel Aviv há vários anos. Empresária, destaca o conflito, os medos, tensões, perdas de amigos, enfim, como é estar vivendo este momento.
BD: Como está atualmente a situação em Israel com os bombardeios vindos do Irã?
Gabriela: A situação está muito difícil. Estamos vivendo uma guerra direta contra o Irã — uma das mais graves que Israel já enfrentou, o que eleva muito o nível de tensão.
É angustiante. As sirenes tocam de madrugada e precisamos correr para os abrigos. Dormir virou um luxo. Durante o dia, não conseguimos nos afastar de casa, porque temos que estar sempre próximos de um espaço protegido. Recebemos alertas com pelo menos 10 minutos de antecedência até que o míssil atinja o solo. Mesmo sabendo que a maioria foi interceptada, vários chegaram a cair em território israelense. E como o país é pequeno, tudo é muito próximo — o barulho das explosões é ensurdecedor, e sentimos o tremor e o impacto.
Vivemos em alerta constante, mas seguimos com esperança e confiança no sistema de defesa de Israel, que tem sido fundamental para nos proteger. Tentamos cuidar da nossa saúde mental como podemos, apoiando uns aos outros e buscando momentos de respiro no meio do caos.
Atualmente, apenas locais de trabalho essenciais seguem funcionando. No entanto, supermercados e farmácias permanecem abertos, e não há falta de suprimentos. A vida segue dentro do possível, mesmo com tantas limitações.
BD: Como a população está se abrigando e se protegendo das investidas, principalmente quando são à noite?
Gabriela: O sistema de segurança da população, o Pikud HaOref, emitiu uma orientação clara: todos devem permanecer próximos a abrigos protegidos — sejam subterrâneos, públicos ou os cômodos blindados obrigatórios em prédios mais novos. Quem não tem um abrigo acessível foi orientado a deixar sua cidade temporariamente e buscar refúgio em áreas com estrutura segura. Não é mais como antes, quando um cômodo interno ou uma escada podiam ser suficientes.
À noite é ainda mais difícil. Somos pegos dormindo e temos poucos segundos para reagir. Muitas pessoas já deixam uma malinha pronta com suprimentos básicos. Dormimos vestidos, preparados para correr a qualquer momento, e alguns estão optando por passar as noites diretamente em bunkers públicos. É uma rotina exaustiva, física e emocionalmente — mas, infelizmente, virou parte do nosso cotidiano.
BD: Houve uma mudança significativa da vida da população após as investidas, tipo, escolas, centros comerciais, praias e outros pontos de aglomeração de pessoas?
Gabriela: Com certeza. A vida mudou completamente. Escolas e universidades foram fechadas, eventos cancelados, centros comerciais estão vazios e as praias praticamente desertas. Apenas os trabalhos considerados essenciais continuam funcionando presencialmente.
Além disso, o espaço aéreo está temporariamente bloqueado. A movimentação nas ruas diminuiu drasticamente, e a maioria da população está em casa, vivendo sob alerta constante.
BD: O que se espera deste conflito, ou seja, tempo de duração, resultados e ação dos líderes?
Gabriela: É impossível saber até quando isso vai durar. Estamos no meio de uma guerra complexa, com ameaças constantes por todos os lados. Não se trata apenas do confronto com o Irã — a guerra em Gaza continua, e ainda temos muitos sequestrados que precisam voltar para casa. Eles não podem ser esquecidos.
O que esperamos dos nossos líderes é responsabilidade, clareza e humanidade. Que cuidem da população com seriedade e compaixão. Confiamos no sistema de defesa, mas mais do que respostas militares, o que desejamos é um caminho para a paz. Que haja acordos, soluções e prioridade para a vida. Que todos os nossos — soldados, civis, sequestrados — possam voltar para casa em segurança. Que possamos viver em paz na terra de Israel e no mundo todo.
BD: Com relação à Faixa de Gaza, como você vê o prolongamento das ações nesse território?
Gabriela: É muito doloroso ver esse conflito se arrastando por tanto tempo. Sabemos que há uma ameaça real vinda de lá, mas também sabemos que há vidas de civis inocentes dos dois lados sendo afetadas diariamente. O prolongamento das ações em Gaza mantém o país em alerta constante e impede qualquer sensação de normalidade.
Além disso, é impossível falar de Gaza sem lembrar dos sequestrados que ainda estão lá. Cada dia que passa sem a volta deles é uma ferida aberta na sociedade israelense. O desejo é que haja uma solução o mais breve possível — que permita proteger a nossa população, trazer os reféns de volta e, abrir caminho para um futuro de paz
BD: Na última entrevista você falou sobre auxílio às tropas que estão em combate — isso continua? Quais ações existem para apoiar quem está na ativa?
Gabriela: Sim, o apoio continua. Há uma grande rede de voluntários e organizações civis enviando kits de primeiros socorros, alimentos, roupas e itens de higiene para os soldados. Muitos também prestam suporte emocional e logístico. A sociedade inteira está mobilizada para cuidar de quem está na linha de frente.
Infelizmente sim, Israel é um país pequeno, estamos todos conectados de alguma forma. Com dor no coração dessa vez perdi um casal de amigos, o míssel do Irã atingiu diretamente a casa deles aqui no centro do país.
BD: E o seu estabelecimento, como ficou agora com toda a situação?
Gabriela: Meu bar está fechado, sem previsão de reabertura. Eu trabalho com vida noturna — com encontros, música, festa, alegria, gente celebrando a vida. E tudo isso simplesmente deixou de existir neste momento. Não há clima, nem segurança, para esse tipo de atividade. Está tudo em pausa, por tempo indeterminado. Assim como muitos nesse setor, seguimos esperando o momento em que seja possível voltar — com segurança e com leveza.