Depoimentos marcantes de sobreviventes e tensão definem 1º dia de julgamento do caso Kiss

Terminou, pouco depois das 22h, o primeiro dia do tribunal do júri do caso da Boate Kiss, tragédia que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos em Santa Maria, em 2013. As oitivas das testemunhas de acusação prosseguirão ao longo da sexta-feira.

O júri começou pela manhã, com deliberações técnicas e sorteio dos jurados. À tarde foram iniciadas as oitivas das testemunhas. Duas sobreviventes da tragédias foram ouvidas ao longo do dia: a ex-funcionária da casa noturna, Kátia Siqueira, e Kelen Ferreira.

O Tribunal do Júri ocorre no Foro Central, em Porto Alegre. A quarta-feira apresentou tensões entre Ministério Público e a defesa em alguns momentos. O juiz Orlando Faccini Neto, que comanda o júri, precisou intervir para acalmar os ânimos.

Na manhã de quinta-feira, devem ser ouvidos Emanuel Almeida Pastl e Jéssica Montardo Rosado. Na primeira hora da tarde, será ouvida a testemunha Miguel Ângelo Teixeira Pedroso. Depois, falam Lucas e Gustavo Cauduro.

Momentos de tensão 

O primeiro momento de tensão foi durante a chegada do produtor musical Luciano Bonilha, de 43 anos, por volta das 9h. Abalado ao subir as escadas do prédio do Foro Central I de Porto Alegre, o músico disse à imprensa aos gritos: “Eu não sou assassino.”

Após entrar no prédio, Bonilha passou mal e teve de ser atendido pela equipe médica do fórum. Ele chegou ao plenário minutos depois dos outros réus. “Luciano vinha enfrentando esse julgamento de uma forma muito melhor. Hoje ele passou mal, mas depois de 30, 40 minutos ele voltou ao normal”, afirmou Gustavo Nagelstein, advogado do músico. “Ele é um cumpridor de ordens, não tinha escolha naquela noite, foi determinado que ele fizesse aquilo. Ele acendeu os fogos como lhe foi mandado.”

Já no fim da noite, MP e defesa trocaram farpas. A discussão girou em torno de uma prova juntada ao processo, referente a um vídeo feito por uma das testemunhas. O juiz voltou a intervir, e os ânimos foram contornados.

Os depoimentos

O depoimento da primeira testemunha, a ex-funcionária Kátia Giane Pacheco Siqueira durou cerca de quatro horas. Ela foi indagada sobre questões técnicas da estrutura da boate, lotação e sinalização do espaço no dia do incêndio. Grávida, a ex-funcionária demonstrou sinais de cansaço na última hora do depoimento. Kátia relatou ao juiz que trabalhou durante seis meses na cozinha e no bar do estabelecimento.

Ela relatou à promotora Lúcia Helena Callegari que espera que os quatro réus sejam condenados. “Com tudo isso que eles fizeram, tentaram matar a gente”, disse ela no plenário. Um dos momentos mais marcantes do depoimento de Kátia foi quando o juiz perguntou à testemunha se ela havia tido algum problema físico ou psicológico decorrente do incêndio.

O juiz encerrou o depoimento de Kátia por volta das 19h15min e determinou intervalo até 20h. Depois, teve início o depoimento de Kellen Giovana Leite Ferreira, sobrevivente da tragédia. “Nunca vi brigadistas ou bombeiros para prevenir incêndio na Boate Kiss.” Ela relatou que ingressou na justiça para conseguir uma prótese da perna. “A família do réu Elissandro Spohr nunca prestou solidariedade”, frisou Kellen.

Kellen ficou internada em Porto Alegre por 78 dias, sendo 15 deles em coma induzido. passou por diversas cirurgias de enxerto de pele, em razão das queimaduras sofridas, e de colocação de prótese. A vítima da tragédia perdeu parte da perna no incêndio.

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